Spam tradutório

Costumo receber CVs de tradutores por e-mail, apesar de nunca ter agenciado nenhum projeto nem dar a entender nada parecido aqui no blog, nem em nenhum outro lugar.

O que muitas vezes acontece é precisar indicar alguém para o cliente porque não entendo do assunto, não trabalho com um determinado par de idiomas ou não tenho condições de aceitar o projeto, por algum motivo, mesmo sendo da minha área e idioma. Mas, nesse caso, obviamente vou indicar alguém que eu conheça, que saiba que é um tradutor pelo menos razoável. Não vou indicar alguém cujo trabalho eu não conheço, que eu não sei se é confiável, pontual. Eu é que não vou me queimar com o cliente! O máximo que já fiz foi pedir indicação a colegas, a pedido do cliente, e repassar o contato com a ressalva de que não conheço, mas foi bem indicado, e que o cliente deveria fazer um teste com o tradutor antes.

Eis que hoje chega um e-mail de uma portuguesa, se oferecendo como tradutora no par português (europeu)-francês e se dispondo a fazer um teste. Fico me perguntando onde ela conseguiu meu endereço. Em todos os portais, e mesmo na minha assinatura de e-mail, sempre coloco o endereço aqui do site (e, antes, do blog no Blogger). Tivesse ao menos se preocupado em clicar no link, veria que não trabalhamos com os mesmos idiomas. E certamente perceberia que não sou agência, sou só tradutora.

Sim, eu também garimpo clientes na internet. Acho que todo tradutor faz (ou deveria fazer) isso. Mas olho os sites um a um, vejo se o cliente em potencial trabalha com os meus idiomas, se atua nas minhas áreas de especialização, que tipo de clientes atende, se anuncia seus preços no site. Porque se ele anunciar um preço próximo ao que eu cobro, nem vale a pena mandar CV. Com certeza não vai querer pagar o meu preço.

Então, fica a dica: garimpo de clientes sim, spam tradutório, não. Até porque passa a impressão (ou, dependendo do caso, a certeza) de que você não pesquisou antes de mandar o e-mail. Ou que abriu o site, leu mas não entendeu o que leu. E, para um tradutor, não sei qual primeira impressão, dentre as duas, é a pior.

Cliente e terminologia

Semana passada me vi enrolada com um projeto. Era um catálogo de consumíveis e peças de reposição de um equipamento de laboratório. Num determinado momento, começaram as listas de peças. Só lista, sem nenhum tipo de imagem pra ajudar.
O site do cliente, mesmo na “seção brasileira”, não trazia um único catálogo ou manual em português que eu pudesse usar como base.
Um exemplo de dúvida que me ocorria: o cliente usa selo ou vedação para seal? Porque não adianta nada eu caprichar na tradução, o manual chegar até os usuários e eles soltarem um “tradutor burro, não sabe que o nome disto é X?”. Não, eu não sei.
Resolvi ligar para o suporte técnico da empresa, felizmente aqui mesmo em São Paulo, para ver se eu conseguia alguma informação. Se tivesse sorte, talvez conseguisse algum catálogo antigo. Depois de alguns números errados e de convencer os técnicos de que eu não era espiã do concorrente, consegui conversar com o técnico responsável pela manutenção daquele tipo de equipamento do meu catálogo. Ouvi coisas como:
“Não precisa traduzir o nome das peças. O manual e o help do sistema estão em inglês, então o usuário já conhece os termos em inglês mesmo.”
“Gold seal? É selo de ouro, claro! Seal é selo em inglês!”
“Wash seal? Wash é lavagem…”

Conclusões:
1 – Pode-se dizer que perdi meu tempo, mas pelo menos me diverti um pouco (se bem que era um típico caso de rir para não chorar);
2 – Ainda bem que o cliente não pensa como aquele engenheiro.
3 – Deve ser engraçado (se não irritante) ver o técnico conversando com o cliente. Mistureba total de inglês e português, pelo jeito.

Glossário do memoQ para “versões”

Não sei se é fato sabido por todos que fazem versão, mas para mim, que praticamente nunca faço, foi uma boa surpresa: os glossários do memoQ funcionam nos dois sentidos. Ou seja, valem tanto para “tradução” quanto para “versão”.

Pensando bem, agora, acabei de me lembrar que ele também pode ter vários idiomas, não só dois. Ou seja, deve funcionar da mesma forma para qualquer combinação dos idiomas contidos no glossário.

O que é essencial em um tradutor?

Sempre ouço a pergunta: o que é preciso para ser tradutor? Resolvi listar algumas habilidades que considero básicas para quem quer sobreviver e crescer no mercado de tradução.

  • * Apesar de precisar de um bom vocabulário, tradutor não é dicionário. Não precisa conhecer todas as palavras do inglês (ou qualquer que seja sua língua de trabalho) nem do português (ou sua língua nativa). Precisa, sim, saber onde encontrar a informação de que precisa.
  • * Não precisa ser especialista no assunto, mas precisa entender o texto original. Principalmente no começo da carreira, os tradutores não são especialistas em uma nenhuma área. Mas pense bem: se o original não faz sentido para você, como sua tradução pode fazer sentido? Quem não entende o original não consegue traduzir direito. Ponto.
  • * Consequência do anterior: a tradução PRECISA fazer sentido para o público-alvo. A terminologia precisa estar o mais correta possível, ou o usuário final da tradução com certeza vai estranhar. E isso não é bom.
  • * Tradutor precisa saber pesquisar. E gostar de pesquisar. Porque, em última análise, é o que mais fazemos o tempo todo. Se não gostar de pesquisar, aconselho procurar outra profissão.
  • * Apesar de ter uma profissão solitária, o tradutor precisa de contatos. E os melhores contatos para futuros trabalhos são os colegas. Portanto, o tradutor precisa saber se comportar nas diversas redes sociais. Caso contrário, pode estar se queimando no mercado sem nem perceber.
  • * Dizem que a tradução é uma arte. Em alguns casos eu concordo, mas tradutor não é artista, é prestador de serviços. Tradutor tem que ser empresário. Tem que consultar o crédito do cliente novo na praça antes de começar um projeto e saber como cobrar caso não seja pago no dia combinado.
  • * Conhecer as ferramentas de tradução. CAT, programas auxiliares, mecanismos de pesquisa na internet. Saber usar muito bem o Word. Os tempos da tradução manuscrita ou datilografada acabaram no século passado, e quem não se atualizar certamente vai ser excluído do mercado, cedo ou tarde (mais cedo do que tarde, acho eu).

É muito provável que eu esteja esquecendo de alguma característica básica e essencial para ser tradutor. Se eu lembrar de mais alguma, incluo depois. Se você souber de mais alguma, por favor me conte.

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