Educação continuada e a permanência na carreira

Uma das coisas mais legais em traduzir é poder aprender um pouco mais todo dia. Amo, de verdade, ser paga pra descobrir coisas novas. Mas não é só com as pesquisas que podemos e devemos aprender sempre. A educação continuada também é essencial, não importa quanto tempo de estrada tradutória você tenha!

Quem já fez alguma oficina de CAT tool comigo sabe que, logo no começo da primeira aula, eu costumo dizer que “camarão que dorme, a onda leva” (usando exatamente a mesma imagem que aparece ali no alto). E eu realmente acredito nisso, e não só com relação à tecnologia. A partir do momento em que não estamos avançando, automaticamente estamos ficando pra trás.

E os clientes também estão começando a cobrar essa atualização contínua! É cada vez mais comum clientes certificados pela ISO entrarem em contato pedindo uma atualização dos cursos que fiz recentemente, dos congressos e eventos de tradução dos quais participei.

E eu participo de muitos. Eventos, congressos, cursos, palestras, oficinas. Se eu conseguir encaixar na agenda e no orçamento, pode esperar me encontrar por aí. Acho que é uma excelente maneira não só de me manter atualizada e aprender mais nas minhas áreas de atuação, mas também de descobrir coisas que poderão, talvez, agregar alguma habilidade nova ou quem sabe até uma nova área de atuação no futuro. Quem sabe?

Quando fiz o curso de legendagem com a Andressa Gatto na i2B em 2021, por exemplo, a intenção não era trabalhar pra plataformas de streaming. Eu queria aprender a quebrar linhas no lugar certo, porque achei que seria útil na localização de jogos. E eu estava certa, ajudou mesmo. Mas, além disso, me abriu as portas para a legendagem institucional. Às vezes aparecia algum cliente meu pedindo esse tipo de serviço, e eu sempre recusava por não conhecer a técnica de legendagem. Agora incorporei a legendagem corporativa ao meu arsenal. <3

Já falei um pouco sobre essa intersecção de áreas em vários posts aqui, e também em pelo menos duas palestras: no congresso da Abrates deste ano e no congresso da Abrates de 2019.

Por isso tudo, resolvi incluir no meu currículo aqui no site uma seção com todos os cursos, oficinas e palestras que fizer. Até agora vinha listando só os cursos mais longos, mas vou começar uma busca arqueológica nas pastas de anotações e certificados e, conforme o tempo permitir, vou incluir tudo.

Fico também à disposição para dar informações sobre os cursos e oficinas que já fiz ao longo dos anos. Sei muito bem quantas horas passamos na frente do computador pra pagar os boletos nossos de cada dia, então é sempre legal ter informações de quem já fez aquele curso antes de investir seu suado dinheirinho sem saber se vale a pena (até porque nem sempre o valor é tão “-inho” assim, não é mesmo?).

Mesmo que não esteja lá na lista, pode vir perguntar no cantinho. Se eu tiver informações confiáveis, mesmo que não sejam de primeira mão, prometo fazer jus à minha fama de sincerona do rolê. 😀

Atualização

A Amarilis Okida fez algumas observações mais do que pertinentes no LinkedIn, coisas que eu costumo comentar nas aulas de mercado da tradução da pós da PUC-PR e devia ter colocado aqui, mas acabei esquecendo completamente. Então lá vai:

1. Pesquise a respeito dos profissionais que compõem o núcleo pedagógico e o corpo docente do curso. Se essas pessoas forem reconhecidas e respeitadas por órgãos de classe, associações profissionais e por seus pares, é um forte indício de qualidade. Do contrário, ligue o sinal de alerta.

2. Informe-se sobre a reputação do curso, como ele é visto no mercado? Se a única menção ao curso ou à equipe pedagógica vier dele mesmo, você terá mais um sinal de alerta.

3. Cuidado com as promessas milagrosas. O dinheiro é consequência de uma carreira séria e cuidadosamente construída em cima de comprometimento e ética. Isso leva tempo. Não há atalhos. Não existe ganhar muito e trabalhar pouco na tradução. Se prometerem isso a você, acenda o farol.

4. Por fim, se possível, converse com quem já fez a formação que despertou o seu interesse e veja se as observações parecem confiáveis. Quem já passou por ali, recomenda? Por quê?

Assino embaixo de tudo, tem vídeo meu dizendo isso em mais de um lugar, então copiei e colei as observações da Lili na cara de pau (mas com os devidos créditos, obviamente).

Quanto às mentorias, nunca fiz nenhuma, mas já fui mentora do Caminho das Pedras da Abrates (e pretendo voltar a ser, assim que conseguir me organizar pra isso). Falando como mentora, foi uma experiência valiosíssima de voluntariado. Fazendo a devida pesquisa prévia, como a Lili indicou ali em cima, também pode ser um bom aprendizado para quem está começando.

Alerta de novo golpe na praça

Pipocou por aqui um novo tipo de golpe que eu, pelo menos, nunca tinha visto. Não é especificamente voltado para a comunidade tradutória, mas pode levar seu dinheiro mesmo assim, se não prestar atenção.

Chega um e-mail avisando que você tem uma entrega pendente que ficou presa na alfândega, e precisa pagar o valor devido pra liberar a mercadoria.

Estou sempre comprando online, então isso em si não foi estranho. Já recebi aviso (legítimo) do correio dizendo que precisava pagar tarifa alfandegária, paguei, recebi o produto, tudo certinho.

A primeira coisa que me chamou a atenção é que esse não vinha do correio, mas de um serviço com nome aleatório genérico. E chegou no e-mail profissional, que eu raramente uso pra compras.

Fiz uma busca pelo suposto número do pedido no meu e-mail, porque em geral chega um e-mail de confirmação de compra com o número do pedido, certo? Mas… nada.

Obviamente não paguei nada e fiquei esperando pra ver o que acontecia. Claro que é óbvio que nada aconteceu, além de chegarem mais e-mails parecidos.

O primeiro e-mail chegou dia 5, e até agora já foram ONZE. Todos pro mesmo e-mail, cada um com um número de pedido diferente.  Outra coisa que chama a atenção é que nem sempre o número do pedido aparece no corpo do e-mail. Às vezes é no corpo, às vezes é só no assunto.

Por desencargo de consciência, ainda fui ver o que diz o siteconfiável.com.br, que é ótimo pra mostrar sinais de alerta de golpe, e confirmaram a minha nada leve suspeita.

A título de comparação, olha só o que ele diz sobre o meu site:

Então, fica a dica: antes de pagar qualquer coisa, mesmo que seja valor baixo (aqui eram só R$ 17,00), faça a lição de casa! Novos golpes aparecem toda semana, e a gente precisa estar sempre ligada pra não distribuir nosso suado dinheirinho indevidamente.

Sobre os golpes específicos pra comunidade tradutória, falarei em breve. Estou levantando informações. 😉

Atualização em 8 de setembro de 2023:

Estou marcando os e-mails como spam, mas eles continuam chegando, agora também como se fossem da FedEx! Reparem, aliás, a belezura (SQN) do português…

 

Reparem que o e-mail não tem nada a ver com a FedEx, que é uma empresa conhecida há décadas. O site deles têm, inclusive, uma seção de rastreio de encomendas. Acessei direto pelo navegador, obviamente, sem clicar em nada no e-mail, e coloquei esse código que aparece ali em cima. Como eu já tinha certeza absoluta, ele não existe. ¯\_(ツ)_/¯

 

Slides da apresentação no 12º congresso da Abrates

Antes tarde do que mais tarde, conforme prometi, aqui estão os slides da minha apresentação no 12º congresso da Abrates, que ocorreu no início deste mês em São Paulo.

Desta vez, falei sobre as similaridades (ou convergências) entre a tradução editorial/literária e outras áreas da tradução, e alguns truques que podemos levar dessas outras áreas para a editorial.

Como usar dicionários analógicos na tradução

Faz muito tempo que estou pra escrever sobre o uso dos dicionários analógicos na tradução, mas acabava sempre ficando pra semana que vem. Bom, finalmente a semana que vem chegou e o post saiu! 😀

Um dicionário analógico, também chamado de tesauro (thesaurus, em inglês), é um dicionário de ideias afins. Mais ou menos como sinônimos (mas não necessariamente).

E como é que a gente pode usar esses dicionários na tradução, se eles são monolíngues?

Então… Pro método que vou mostrar funcionar, o dicionário analógico precisa necessariamente estar organizado em mil categorias.

Em português, é o Dicionário analógico da língua portuguesa; ideias afins/thesaurus do Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, publicado pela editora Lexikon.

Em inglês, uso o Roget’s Thesaurus disponível gratuitamente no site do Gutenberg Project.

Não sei se existem tesauros equivalentes, com essas mesmas mil categorias, em outros idiomas. Se alguém souber, por favor deixe um comentário, assim eu posso atualizar o post (com os devidos créditos, claro). 🙂

Então, vamos aos finalmentes.

Vou usar como exemplo um termo em inglês que pode ser bem chatinho de traduzir, dependendo do contexto: support. Como vamos usar a versão digital, é só fazer uma busca pelo termo que você precisa. As versões impressas têm um índice remissivo em ordem alfabética no final.

O “#215” ali no começo indica a categoria. Neste caso, a categoria é “Support” mesmo. O “N.” logo depois indica “nouns”, ou seja, substantivos, que se enquadram nessa ideia.

Lembra que eu disse que as categorias nos dois dicionários, em inglês e português, são equivalentes? Então agora a gente procura essa mesma categoria 215 no dicionário em português, e encontra isto:

Esta, na verdade, é uma pequena parte da categoria. Tem mais uma variedade enorme de opções de substantivos na página seguinte. É só procurar o termo que mais se encaixe no seu contexto específico.

No fim da categoria, eles mostram verbos, adjetivos e advérbios:

 

 

Os números que aparecem no meio dos termos são indicações de outras categorias que talvez tenham o que você precisa.

Essas triangulações já me ajudaram um sem-número de vezes, quando outros dicionários ajudam a entender o conceito, mas não a achar aquela palavrinha que encaixa como uma luva no nosso texto. A propósito, “como uma luva” está na categoria 23, Acordo. 😀

Dessa forma, conseguimos usar um vocabulário mais rico e fugir um pouco de lugares-comuns e, principalmente, do tradutês.

Ah, sim, quase esqueço de falar: o método funciona da mesma forma na direção contrária, do inglês para o português (e, se existirem tesauros assim em outros idiomas, também deve funcionar entre qualquer um deles).

Como eu disse, prefiro consultar em formato digital, agiliza bastante o processo (sem falar que os livros digitais costumam custar menos e não ocupam espaço). Para obter os seus:

Roget’s Thesaurus (gratuito)

Dicionário Analógico (fiquem de olho em todo o catálogo da Lexikon, aliás, eles valem cada centavo e entram em promoção com relativa frequência)

Boas pesquisas! 🙂

A teoria, a prática e a tradução

O querido e saudoso Daniel Estill sempre dizia que teoria e prática deviam andar sempre de mãos dadas. Na época, mais de dez anos atrás, ainda lá no Orkut, eu, que vinha das Exatas e tinha caído de paraquedas na tradução, não entendia muito bem o que era essa “teoria” de que ele tanto falava.

Depois disso fiz o formativo de tradutores literários da CGA, onde tive um gostinho da tal teoria da tradução (e me mostrou que ainda tenho muito a aprender!), li a Gramática da Manipulação da Letícia Sallorenzo, aprendi um pouco sobre análise do discurso e nunca mais li uma manchete de jornal do mesmo jeito, descobri a gramática descritiva, as variações linguísticas, a linguagem neutra, a linguagem inclusiva. Aprendi a perceber o quanto de preconceito social e de gênero está escondido (e nem sempre tão escondido assim) no normativismo. A reparar na linha tênue que às vezes separa a “defesa da língua” da xenofobia. Nas diferenças entre a evolução orgânica da língua (que felizmente é viva, sim, senão estaríamos falando vosmecê e pharmácia até hoje) e a adoção indiscriminada de termos estrangeiros só porque sim (oi, “sale 50% off”, estou falando com você), porque soa mais chique ou superior ou porque a pessoa sabe mais ou menos português e sabe mais ou menos inglês e sabe bem transformar os dois numa salada mista às vezes ininteligível para “não iniciados”.

Entendi melhor por que raios o genérico masculino sempre me irritou, e o que posso tentar começar a fazer com relação a isso. Aprendi que usar linguagem neutra é algo que eu de certa forma já fazia em localização, mas não ligava o nome à prática.

Aliás, acho que isso resume bem: aprendi que coisas que eu já fazia têm nome. E têm método. Aprendi que nem sempre temos tempo de teorizar a cada frase que traduzimos, e nem precisamos fazer isso, mas também aprendi conceitos que me fizeram enxergar meu trabalho de outra forma. Apesar de não seguir a vida acadêmica, de não ir a fundo nesses temas, acho que saber essas coisas, mesmo que um pouco de cada uma, na prática me faz — no presente, porque continuo aprendendo um pouquinho mais todo dia — uma profissional melhor.

Pra variar, Daniel, você estava coberto de razão. <3

 

 

Sugestões de leitura:

Gramática da manipulação: https://amzn.to/3EbAKj4 (físico); https://amzn.to/3Ej6hQg (digital)

Gramática da norma de referência: https://amzn.to/3vfngyK (só físico)

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