O que é essencial em um tradutor?

Sempre ouço a pergunta: o que é preciso para ser tradutor? Resolvi listar algumas habilidades que considero básicas para quem quer sobreviver e crescer no mercado de tradução.

  • * Apesar de precisar de um bom vocabulário, tradutor não é dicionário. Não precisa conhecer todas as palavras do inglês (ou qualquer que seja sua língua de trabalho) nem do português (ou sua língua nativa). Precisa, sim, saber onde encontrar a informação de que precisa.
  • * Não precisa ser especialista no assunto, mas precisa entender o texto original. Principalmente no começo da carreira, os tradutores não são especialistas em uma nenhuma área. Mas pense bem: se o original não faz sentido para você, como sua tradução pode fazer sentido? Quem não entende o original não consegue traduzir direito. Ponto.
  • * Consequência do anterior: a tradução PRECISA fazer sentido para o público-alvo. A terminologia precisa estar o mais correta possível, ou o usuário final da tradução com certeza vai estranhar. E isso não é bom.
  • * Tradutor precisa saber pesquisar. E gostar de pesquisar. Porque, em última análise, é o que mais fazemos o tempo todo. Se não gostar de pesquisar, aconselho procurar outra profissão.
  • * Apesar de ter uma profissão solitária, o tradutor precisa de contatos. E os melhores contatos para futuros trabalhos são os colegas. Portanto, o tradutor precisa saber se comportar nas diversas redes sociais. Caso contrário, pode estar se queimando no mercado sem nem perceber.
  • * Dizem que a tradução é uma arte. Em alguns casos eu concordo, mas tradutor não é artista, é prestador de serviços. Tradutor tem que ser empresário. Tem que consultar o crédito do cliente novo na praça antes de começar um projeto e saber como cobrar caso não seja pago no dia combinado.
  • * Conhecer as ferramentas de tradução. CAT, programas auxiliares, mecanismos de pesquisa na internet. Saber usar muito bem o Word. Os tempos da tradução manuscrita ou datilografada acabaram no século passado, e quem não se atualizar certamente vai ser excluído do mercado, cedo ou tarde (mais cedo do que tarde, acho eu).

É muito provável que eu esteja esquecendo de alguma característica básica e essencial para ser tradutor. Se eu lembrar de mais alguma, incluo depois. Se você souber de mais alguma, por favor me conte.

Você não precisa se certificar o tempo todo

Há alguns dias o colega João Vicente de Paulo começou no twitter uma discussão sobre a tradução de “make sure“, em inglês, sempre como “certifique-se de“.

A rigor, não está errado. O problema é traduzir sempre da mesma maneira, no piloto automático. O texto acaba pesado, não se parecendo com o português que nós usaríamos no dia a dia.

Esta semana, comentei no twitter que consegui traduzir um manual de 37 páginas sem usar o “certifique-se de” nenhuma vez, e me perguntaram quais soluções eu usei.

Então, vamos lá. Antes de mais nada, vale a pena copiar o verbete do Vocabulando:

make sure, be sure

cuidar, certificar-se, exigir, garantir, lembrar-se, procurar, providenciar, tratar de, ter em mente, ter certeza, não se esquecer, não deixar, fazer questão de, tomar cuidado, prestar atenção

* Be sure to perform three repetitions. > Cuidado / Atenção: Repita o exercício três vezes.

* Be sure to lock the door. > Lembre-se, preste atenção, tome cuidado, não deixe de, não se esqueça de fechar a porta.

* I’ll make sure of it. > Vou cuidar, providenciar, tratar disso. / Não vou esquecer.

* Make sure the shop gives you a receipt. > Exija, faça questão do recibo.

* Make sure you understand the rules. > Procure, faça questão de compreender bem as regras.

No caso dos manuais de instruções, também podem ser usadas outras opções. Usando um exemplo tirado da minha memória de tradução:

Make sure the terminals are properly tightened.

Verifique se os terminais estão corretamente/devidamente apertados.
Confirme se os terminais estão apertados corretamente.
Os terminais devem estar apertados corretamente.

Não vou dizer que “Certifique-se de que os terminais estejam corretamente apertados” está errado. Não está, de maneira nenhuma. Não façamos com o “certifique-se” o que andaram fazendo com o gerúndio, perseguir de tal forma que, mesmo estando correto, as pessoas ficam com medo de usar.
A ideia, aqui, é ter outras opções, para que o texto flua bem, sem cara de tradutorês.

Mesa-redonda sobre tradução – Prêmio União Latina 2010

Se você, como eu, não conseguiu ir até a Bienal do Livro para assistir à mesa-redonda do Prêmio União Latina de Tradução Especializada, eis sua chance.

A União Latina colocou no YouTube a mesa-redonda dividida em seis vídeos, que eu reuni em uma lista de reprodução.

Participaram da mesa: Denise Bottmann, Ivone Benedetti, Francis Henrik Aubert, Maurício Santana Dias e Adauri Brezolin.


Como traduzir arquivos .ttx no memoQ

Quando um cliente envia um arquivo .ttx, espera que seja traduzido no TagEditor. Mas, como uso o TE apenas em último caso, traduzo tudo no memoQ. Acho melhor e mais prático, com controle muito melhor da terminologia.

Infelizmente, o método que uso não dispensa o Workbench e o TagEditor nas fases de preparação e finalização.

1. Se o cliente enviou a memória no formato .tmw, abra-a no Trados Workbench (File/Open) e exporte no formato .tmx 1.1 (File/Export).

2. Pré-traduza os arquivos enviados pelo cliente. No Trados Workbench, selecione Tools/Translate/Add, selecione os arquivos que quer pré-traduzir, confirme se as opções correspondem às da figura abaixo e clique em Translate.Pretranslate no workbench

Uma observação importante: se a caixa “Segment unknown sentences” não estiver marcada, o Trados não vai segmentar o arquivo inteiro. A opção precisa estar marcada para ocorrer a segmentação completa. [Valeu pelo toque, Danilo!]

3. Adicione os arquivos pré-traduzidos normalmente no projeto do memoQ.

4. Se o cliente enviou a memória, você pode usar a opção Import from TMX/CSV, no módulo de recursos ou na aba Translation Memories, para incorporar a memória do cliente (que você transformou em .tmx no passo 1 acima) à memória do projeto.

5. Traduza o arquivo normalmente no memoQ.

6. Exporte o arquivo bilíngue, usando a opção Export bilingual/Two-column RTF da aba Translations.

7. Abra o arquivo no Word e passe o corretor ortográfico/gramatical. Salve as alterações.

8. Reimporte o arquivo corrigido no memoQ, usando o comando Import/update bilingual da aba Translations.

9. Confirme os segmentos alterados: selecione no menu Operations/Confirm and Update Rows, marque a opção Edited e clique em OK. Todos os segmentos alterados serão incorporados à memória do projeto.

10. Agora, veja se não esqueceu nenhuma tag. Se isso acontecer o arquivo pode não abrir corretamente no TagEditor ou dar problema na exportação final. No menu, selecione Operations/Resolve Erros and Warnings. Corrija o que precisar, confirmando cada segmento corrigido.

11. Só falta exportar o arquivo. Na aba Translations, selecione Export (dialog) e especifique o local de destino do arquivo. O resultado é um arquivo .ttx bilíngue, exatamente como se tivesse sido traduzido no TagEditor.

12. Prontinho. Por via das dúvidas, abra o arquivo no TagEditor para confirmar que não deu nenhum problema. É raro, mas pode acontecer.

Observação importante: para que o arquivo final seja bilíngue é indispensável a pré-tradução no Workbench (passo 2). Caso contrário, o resultado será um arquivo apenas em português (ou qualquer que seja sua língua-destino).

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