Ler, só, não basta

Tempos atrás meu cabeleireiro postou no Facebook:

Acho que quando você abre uma vaga de emprego e pede pra que as pessoas mandem currículo ou portfólio pra determinado e-mail, o mais óbvio é que se faça exatamente isso. Se o povo não consegue cumprir nem a primeira tarefa direito, imagina daqui a um tempo, se eu contrato esse povo.

Seguir instruções faz parte de qualquer trabalho, de qualquer área. Mas quem trabalha com textos precisa prestar atenção ainda maior a isso. Nosso trabalho pressupõe leitura e interpretação de texto o tempo todo. Quem não é capaz disso não tem condições de ser tradutor. Ponto. Ainda assim, é comum ver alguém postar uma oferta de trabalho num grupo ou lista pedindo para que os currículos sejam enviados para determinado e-mail, e o que acontece? Várias e várias respostas no próprio tópico. Isso já desqualifica o candidato, se o cliente for exigente.

Semana passada fiz um teste que pedia para renomear o arquivo do teste (que, por si, já tinha várias instruções a seguir com relação à terminologia) para código do idioma_nome do tradutor e enviar para email@dominiodaempresa.com com a linha de assunto “Translation test XXX project código do idioma”.

Depois de uma oferta no Proz.com, por exemplo, uma agência recebe no mínimo dezenas de contatos. Essa é uma forma simples de filtrar os candidatos que sabem seguir instruções. Primeiro, só são considerados os testes enviados para o endereço certo. Segundo, muito provavelmente o cliente definiu um filtro na caixa de entrada que manda os testes com assunto certo para determinada pasta. Eles vão abrir só essas mensagens, todas as outras que não seguirem os parâmeros muito provavelmente acabarão no lixo. Das que estiverem na pasta certa, vão pegar só os arquivos que estiverem corretamente renomeados. Não sei se existe uma estatística confiável com relação a isso, mas acredito que o percentual de candidatos “jogados no lixo” por não seguir as instruções iniciais não deve ser tão pequeno assim.

Então, deixo algumas dicas básicas para ganhar pontos adicionais com os clientes – ou, pelo menos, não perder pontos por falta de atenção:

  • Leia com cuidado e siga todas as instruções do cliente para testes e, claro, para todos os projetos.
  • Quando vir uma oferta em um grupo, comunidade, site ou lista, envie seu CV conforme indicado pelo solicitante: mensagem privada, no próprio tópico, um endereço específico, o que for.
  • Pense antes de indicar alguém. Se pediram um “revisor nativo de inglês”, por exemplo, não indique alguém que não cumpra essa exigência. Além de não ajudar o solicitante, mostra que você não leu, não entendeu ou simplesmente resolveu ignorar as instruções. De qualquer forma, depõe contra você.

Afinal de contas, se meu cabeleireiro ficou irritado porque os candidatos não seguiram as instruções que leram, o que vocês acham que nossos clientes pensam nessas situações? Que imagem eles fazem desses tradutores? Será que estão dispostos a pagar bem um profissional assim?

Apareça… mas não se queime

No Congresso da Abrates, em março, a principal recomendação de vários palestrantes foi “apareça na internet!“. Destacaram a presença no mundo virtual como forma eficiente de captar novos clientes. Participar de mídias sociais como Orkut, Facebook, Twitter ou mesmo das listas de tradutores no Yahoo aumenta suas chances de conseguir um novo cliente a qualquer momento. Já parou para pensar que um colega pode estar precisando de alguém com exatamente as suas qualificações? Só que se ele não souber que você existe, nunca vai entrar em contato. Você precisa participar das conversas, interagir com os colegas, quem sabe até ajudar alguém com dúvida.

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas muita gente se esquece de um detalhe muito importante: o que você pode ou deve falar em um ambiente virtual. Mesmo sendo ambientes bastante informais, é preciso cuidado com a imagem que passamos.

É muito comum ver nas comunidades profissionais do Orkut ou no Twitter revelações para lá de cabeludas. Outras pessoas chegam em um ambiente virtual (seja comunidade do Orkut, seja uma lista do Yahoo) como se chegasse na sala de alguém apoiando os pés na mesa de centro. Isso não se faz no “mundo real” e não deve acontecer no mundo virtual.

Lembre-se: qualquer uma daquelas pessoas que lê o que você escreve é um cliente em potencial. Quer mesmo que ele leia “aquilo”?

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