Um assunto recorrente, em qualquer fórum de tradutores, é a falta de pagamento pelo cliente X ou Y. Pior, X e Y geralmente são figurinhas conhecidas, que vivem sendo mencionados como maus pagadores.
Isso me dá uma quase-certeza: boa parte dos tradutores tem talentos linguísticos, mas não comerciais.
Uma comparação simples são as lojas de varejo. Se eu for comprar alguma coisa a crédito, digamos, nas Casas Bahia, vou ter que preencher uma ficha de cadastro com todos os meus dados. Preciso dar referências, nome do banco, cartão de crédito. O departamento de crédito vai confirmar as informações, verificar no Serasa se não sou inadimplente (vulgo “caloteira”), se tenho protesto na praça, enfim, vão levantar minha ficha completa para decidir se vale a pena o risco de me venderem um produto a prazo.
Então por que eu, que tenho muitos menos cacife que as Casas Bahia para aguentar o baque de um calote, não faria a mesma coisa?
Na maioria dos casos o Serasa não resolve nosso problema, mas nós, tradutores, temos nossos métodos próprios de consulta ao crédito. Os principais são:
– Listas de pagamento do Yahoo (gratuitas): WPPF, pp_brasil
– Sites específicos de consulta a crédito para tradutores (pagos): TCR, Payment Practices
– BlueBoard do Proz (pago)
– Arquivos das listas de tradutores
À exceção do BlueBoard, que traz informações completas apenas para os membros pagantes do Proz, o investimento é ínfimo comparado à tranquilidade que proporciona. A TCR custa USD 12 ao ano, a Payment Practices, USD 20. AO ANO. Um único mau cliente que descartemos por informação dessas fontes já compensou o investimento, com muita folga.
Pesquisar os arquivos das listas de tradutores também costuma ajudar. É muito comum colegas reclamarem em público quando não são pagos, e as queixas ficam lá nos arquivos, registradas para a posteridade.
Aliás, é marcante a diferença de postura entre as queixas nas listas de tradutores e as informações nas listas de pagamento. As últimas costumam ser mais objetivas, demonstrando um comportamento muito mais profissional. Algo como “a empresa X me deve X patacas por um serviço entregue dia tal, com pagamento combinado para dia tal”. Nas listas, o tom costuma ser mais na linha “Fulano da empresa ACME é um safado caloteiro, não me paga nem atende meus telefonemas”. Podem estar dizendo exatamente a mesma coisa, mas chamar alguém de “safado caloteiro” certamente sujeita o denunciante a represálias, além de demonstrar pouco profissionalismo.
É também importante obter o máximo de informações que puder sobre o cliente: nome (ou razão social, no caso de agências), endereço, telefones, e-mail, nome do contato. Incrível o número de colegas que aceita serviço, principalmente terceirizados de outros tradutores, sem saber nada sobre o contratante além de um endereço de e-mail gratuito.
Quando a empresa está no Brasil até fica mais fácil receber, pode-se protestar a duplicata (presumindo-se que o tradutor emitiu uma nota fiscal) ou cobrar na justiça, mas e se a empresa estiver do outro lado do mundo?
É muito mais fácil, rápido e indolor se precaver antes de aceitar o serviço do que chorar e espernear sobre o leite derramado.